Crônica
PARA QUEM O ÚLTIMO PENSAMENTO?
Se acaso me faltar palavras pela manhã.
E o silêncio inundar minha sala. Deixo discos do Chico, livros nas prateleiras, fotografias e rascunhos de poesias. Sabe, andei ocupada com a desconstrução. A casa está perfumada. Cheiro de paz! Não diga que eu estava só!
Estava na melhor companhia. Calmaria em meu coração. Diga que fui feliz! Coisas ruins não permaneceram.
Mudando de assunto, leio Fernando, o Pessoa. Manoel de Barros, Drummond e Clarice. Jorge amado e Cervantes. Guimarães Rosa e Saramago. Mário Quintana, no fim da tarde. Minha vida viveu tantas histórias. Visitei Ariano Suassuna! Não deixaria de ir. Minha última reza foi vendo a imagem da compadecida.
Pude ouvir aplausos das salas de tantos teatros da vida. Estava longe e sempre perto. Quem entenderia? Tantas canções a me trazer saudades. Abri os olhos e sorri. Não é uma despedida, é um ensaio!
Quem escreve não morre!
Os sonhadores jamais! Corri o olhar pelas lembranças.
Na parede um quadro de minha mãe. Tudo dela ficou comigo. Foi pra mim o último aperto de mão, o último olhar, o último beijo, a última lágrima. Certeza, o último pensamento.
Capricorniana que sou, feito Juliana.
Me pus a pensar. Preciso organizar. Para quem o último pensamento?
De repente a sobrancelha ergueu-se. E minhas plantas, quem cuidará?
Elas tem nomes, cores e sentimentos. Elas tem tanta vida. Só fiz cuidar, só fiz regar. Chegando um sono tão forte. Pensei, deve ser a morte! Essa ingrata!
Tudo aquietou-se!
E desfaleci! Por certo cansaço. No começo da manhã os meus olhos se abriram. Levantei desconfiada. Fui logo percebendo que havia um primeiro pensamento, não um último. Essa vida é engraçada! Dormi pensando que morria. Acordei pensando que vivia.
PATRÍCIA LOPES DE OLIVEIRA
Escreve periodicamente no Blog do Toninho
Formada em Letras e Direito
Pesquisadora em projetos humanitários e culturais
15:38:20
