O VELHO E O IDOSO
Tácito Cortes de Carvalho e Silva
Médico e escritor
Academia Venceslauense de Letras.
A idade vai chegando sem que se perceba. Primeiro ficamos mais cansados. A seguir já não conseguimos mais fazer o que realizávamos com enorme facilidade e as dores, antes improváveis, agora limitam nossos movimentos. Pior do que isto: encontramos um amigo que nos diz: “Já se aposentou? Precisa descansar querido!”
Atestado maior de que a velhice chegou está na nossa visão. Não conseguimos mais ler o livro com letras pequenas e o oftalmologista nos indica a cirurgia de cataratas. São transformações inexoráveis que, a pouco e pouco, vão nos mostrando que ela, a velhice, chegou! Lógico que resistimos a isto. Alguns tingem os cabelos, alguns voltam (com enorme dificuldade!) a praticar esporte e há até os que se casam com pessoas muito mais jovens na vã tentativa do retorno à mocidade.
Ao chegarmos aos setenta anos, no entanto, caímos em si e vemos que ela chegou. Os filhos nos tratam com um carinho cuidadoso como se fossemos bibelôs e não levam mais em consideração nossas opiniões. Os netos, já na faculdade, não nos visitam mais e quando nos veem quase não se recordam do que fomos para eles. Enfim, a velhice chamada de “terceira idade ou melhor idade” (será?), chegou, palpável, concreta, insofismável…
No entanto é preciso diferenciar o velho do idoso! A expectativa de vida aumentou muito nos últimos decênios graças a vários fatores entre os quais destaco uma medicina moderna com uma tecnologia que assegura uma melhor saúde com diagnósticos mais prematuros e medicações mais resolutivas, um saneamento básico muito mais concreto e coletivo, noções de cuidados com a higiene e com o corpo mais efetivas e, se na década de 1950 a expectativa de vida era até aos sessenta anos hoje chega aos 75 anos em certas regiões do país, ou seja, o envelhecimento ocorre mais tardiamente, a longevidade é muito maior. Então precisamos mesmo diferenciar o velho do idoso.
Na minha opinião o velho é aquele que se entrega para a idade e para de viver: fica o tempo todo deprimido e amargo, não tem mais sonhos, não se movimenta mais e se afasta de tudo, reclama de qualquer coisa e considera que nada mais tem a fazer. O velho, sentado o dia todo no sofá da sala ou no banco da praça, queixa-se de suas doenças e, as vezes, blasfema contra Deus e sua própria vida! Espera o tempo passar e sua hora chegar…O tempo no entanto escorre lentamente e, assim, o velho cada vez sofre mais e vê a existência mais cinzenta.
O idoso, ao contrário, vive intensamente sua senectude! Faz atividade física, lê jornais e bons livros, se interessa pela sua comunidade, anima as reuniões familiares e com os amigos, sempre está pronto e apto para um passeio, um baile, um conselho, um gesto de amor e companheirismo! Sabe que já viveu muitas décadas mas não deixa de sonhar e de fazer planos, as vezes volta a estudar e sempre está à disposição. Conhece suas limitações e suas dores mas as vence com otimismo. Assim, permanece importante e fundamental para todos!
Obvio que tudo depende da personalidade de cada um e da vida que foi vivida mas fé e determinação são fundamentais e cabem em todos nós. Desejo que você, leitor querido, seja um idoso que marque sua passagem com amor, pois nesta vida tão efêmera o que importa é viver!
Texto extraído do Jornal Tribuna Livre, a pedido do jornalista Clóvis Moré, que através desta cumprimenta o autor pela serenidade e estrutura de verdade as quais se baseou para elaborar o belo texto. Parabéns!. “
17:33:53
Uma resposta
Parabéns Dr. Tacinho !!!
Sempre nos presenteando com seus textos maravilhosos.