O reajuste mediano dos salários negociados por sindicatos em convenções e acordos coletivos em 2023 foi de 5,5%, o que representa um ganho aos trabalhadores de mais de 1 pp (ponto percentual) acima da inflação. No ano, 78,2% das negociações previram aumentos salariais reais.
Os números consideram a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que foi de 3,71% no ano passado. Os dados são do Salariômetro de janeiro de 2024, levantamento realizado pela Fipe (Fundação Instituto Econômico de Pesquisas) e divulgado nesta terça-feira (23).
O ano de 2023 teve menos inflação. Isso faz com que as empresas tenham mais espaço para dar ganho real aos trabalhadores. O último ano em que isso ocorreu foi em 2018. Depois a inflação subiu e, durante cinco anos, o reajuste foi menor. PESQUISADOR HÉLIO ZYLBERSTAJN, PROFESSOR DA FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP) E COORDENADOR DO SALARIÔMETRO.
A categoria que teve aumento real mais expressivo foi a da construção civil, (1,52 pp acima do INPC). “Quando a atividade está muito em expansão, como a construção civil, ela contrata muitos trabalhadores. Isso aumenta o poder de barganha dos trabalhadores, que conseguem os melhores aumentos. Isso não é surpresa, é sintomático”, afirma Zylberstajn.
Em segundo lugar na lista dos maiores aumentos medianos está a agropecuária (1,17 pp). O setor de serviços aparece em terceiro, com 1% de reajuste mediano acima da inflação.
O levantamento mostra que a região com maior aumento acima da inflação foi o Centro-Oeste, com ganho mediano de 1,07 pp nos salários. No Norte, que teve menos reajuste, a mediana ficou em 0,53 pp.
“Isso tem a ver com o agronegócio, que foi o segundo com maior aumento real. Onde ele está crescendo, ele gera muita renda, e a renda gera consumo, que aquece a economia regional. E o Centro-Oeste é economicamente estruturado na agropecuária”, explica o coordenador do estudo.
Em um mapeamento por estado, o Amapá foi o que teve maior reajuste mediano acima do INPC: 1,67 pp. Na lanterna, está Roraima, com aumento salarial médio de 0,07 pp.
“No Amapá, foram muito poucas negociações. É uma economia pouco diversificada. Então o indicador é puxado por poucos acordos com aumentos expressivos, como os de estatais”, detalha o professor. R7