Patrícia Lopes de Oliveira escreve …

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Crônica
FOI QUANDO DESCOBRI QUE HAVIA NESSE MUNDO, UM OUTRO JEITO DE SER


Das viagens que um dia fiz. Uma guardo num lugar especial. Fui para Minas Gerais. E lá, Além Paraíba, tinha um lugar chamado Santo Antônio do Aventureiro.

Foi quando descobri que havia nesse mundo, um outro jeito de ser. Fiz muitas descobertas nessa viagem. Descobri que Minas tem um tempo diferente. Uma calmaria no falar, andar, pensar e existir. E mineiro existe assim, quase tão solenemente. A paisagem do caminho dava gosto de ver. Que riqueza! Que exuberância! Lugar que se esquece do tempo. E onde a simplicidade nos encanta e arrebata.

Fui passar o final de ano na fazenda de meus tios. Uma estrada cheia de curvas, montanhas. Nunca tinha visto uma paisagem tão diferente, singular, bonita. Chovia muito! De longe avistamos um Casarão imenso. Era branco com janelas azuis. Muitas janelas! Quando chegamos fiquei abismada com o tamanho da casa. Uma casa muito imponente. Uma escadaria na entrada que dava para uma varanda imensa. E a vista daquele lugar era alguma coisa entre a magia e o divino. Cercada de morros e matas. Um lugar no meio do nada. Nunca mais esqueci. Era uma dessas fazendas de café do interior de Minas.

Quando entramos na casa, notei o piso de madeiras largas. Os cômodos imensos, as janelas enormes. Muitos quartos.

A cozinha tinha um fogão de lenha. Nos armários rústicos, muitas panelas e tachos. E num outro espaço agregado tinha uma mesa muito grande. E um sino pendurado num canto. Era o lugar onde meu tio fazia queijos e o melhor doce de leite que experimentei em toda minha vida.

Cansados, fomos tomar banho e em seguida um café maravilhoso. Mesa farta. E aquele cheiro de terra molhada, era tudo muito bom. Fui para o meu quarto descansar. Era um quarto aconchegante. Adormeci.

Às 17 horas acordei com o tilintar do sino, que ecoava por aquelas matas. E chegando na sala percebi que era hora do jantar. Pensei, nossa! Tão cedo! Tudo era novo pra mim. Diferente!

E conversamos após o jantar numa sala que parecia ter saído de um livro. Me via dentro de uma história do passado. Sentia que o tempo não havia passado naquele lugar.
E em seguida todos se recolheram. E no outro dia todos acordaram muito cedo.

Meus primos foram me mostrar os arredores da casa. Tinha um pomar maravilhoso. Com uma variedade muito grande de frutas. Tinha abacateiro, pés de jabuticaba. Tinha pés de goiaba e manga. Tinha pés de laranja, tangerina, pitanga e caqui. Pés de mamão e banana. E para enriquecer a paisagem, tinha um riacho.

Meu olhar não achava fim naquele lugar.

Muitos animais!

Também tinha um laticínio muito moderno. Contrastava com tudo ali.

Santo Antônio do Aventureiro daqueles dias…
A impressão que eu tinha era que o tempo havia parado naquele lugar. Só pensava nisso. O almoço era às 10 horas da manhã. Vida simples e saudável.

Um dia me levaram para conhecer a cidade. A única coisa que lembrava a civilização era um posto da telesp.

A farmácia ainda era pharmacia. E o dono, Sêo Moacir, parecia centenário. Perguntei se havia um descongestionante nasal. Disse que não, mas que passasse no outro dia. Ele ia fazer um pra mim. Fiquei meia desconfiada. Mas aceitei! No outro dia voltamos lá. A fazenda ficava perto da cidade. Ele me recebeu com alegria. E disse que tinha dado certo. E me explicou para colocar uma gota em cada narina pela manhã. Chamava-se “abrena” o remédio. No outro dia, segui as recomendações. E meu nariz ficou seis meses sem precisar de descongestionantes. É…

Foi uma viagem e tanto.

Meu tio tinha dez irmãos. Quatro deles eram dentistas. E os demais seguiam morando por ali mesmo. Todos tinham terras. Trabalhavam na lavoura. Nunca tinham saído daquela cidade. E eram pessoas tão felizes.

Não conheciam muita coisa. Não assistiam televisão. Era um mundo a parte. Mas, sabiam e contavam histórias fantásticas. É um lugar tão bonito, o Santo Antônio do Aventureiro. A história da cidade também é linda.

Foi uma viagem inesquecível.

De Minas Gerais fomos para o Espírito Santo. Para Marataízes. Mas aí já é uma outra história.


PATRÍCIA LOPES DE OLIVEIRA
Escreve periodicamente no Blog do Toninho
Formada em Letras e Direito
Pesquisadora em projetos humanitários e culturais


 

20:25:08

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