Crônica
DELICIOSAMENTE, ATRAVESSAMOS O TEMPO
Sábado a tarde é tradução da preguiça. O sol bate na torre da igreja iluminando o jardim de minhas mais doces lembranças. Às árvores imensas fazem sombra aos que caminham por ali e aos que buscam reviver dias inesquecíveis. O riso das crianças, brincando nesse lugar chamado saudade, parece ecoar a todo instante.
Foram tardes de muita alegria. Tantos sonhos espalhados pelos canteiros, pelas flores. Espaço de ser feliz guardado em meus mais íntimos sentimentos. Os dias ainda são ensolarados. Às árvores ainda permanecem. Às pedras tentam permanecer intactas. Difícil!
Não há mais crianças brincando no jardim, não há mais vozes, não há mais gargalhadas, não há mais as brincadeiras que embalaram a nossa infância. Deliciosamente atravessamos o tempo.
Hoje o meu olhar é de saudade. Fecho os olhos por um momento e nos vejo correndo, andando de bicicleta, brincando de passar anel, de roda, de esconde-esconde, de tanta coisa. Onde foi parar o nosso parquinho? Eternizado em nossos corações. No movimento do balanço construíamos uma vida de liberdade. O vento a esvoaçar nossos cabelos.
A certeza da felicidade eterna. O meu maior medo nessa época era atravessar a Avenida Tiradentes. Parecia tão imensa. Eram tantas as recomendações de minha mãe que esperava do outro lado.
Os carros tinham que cessar para corrermos para o abraço mais terno. Ainda vejo o seu sorriso a nos abraçar. Ainda sinto o conforto daquele amor imenso. A segurança e a certeza de que nunca ninguém nos faria nada de mal. Minha mãe era porto seguro a nos acalentar.
Hoje, da varanda de minha casa eu vejo uma parte boa da minha vida ao alcance dos meus olhos, ao alcance das minhas mãos. Parece que posso tocar a felicidade outra vez.
O sino da igreja ainda toca a toda hora. Como se fosse Deus dizendo que ainda está aqui. Sempre a nos cuidar! Sempre a nos lembrar de seu amor imenso.
E daqui desse lugar, de onde olho para as minhas lembranças. Vejo cada um de meus irmãos e meus amigos. Brinca essa saudade no meu coração. Seja lá onde estiverem, sintam se amorosamente abraçados nesta tarde ensolarada de sábado.
PATRÍCIA LOPES DE OLIVEIRA
Escreve periodicamente no Blog do Toninho
Formada em Letras e Direito
Pesquisadora em projetos humanitários e culturais
16:52:04
Uma resposta
A Patrícia é uma poeta. Lindo texto