Patrícia Lopes de Oliveira escreve…

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Poema
A saudade faz um porto


Eu não me lembro mais o número do seu celular. Lembro do seu rosto, mas não da sua voz. E de tantas coisas que vivemos, algumas, já desapareceram. Tudo tão distante, sumindo no fim dessa estrada. Flutua na minha mente algumas imagens, que tento segurar de alguma forma.

Minhas mãos não sentem mais nada, então, tento imaginar como foi te sentir. Eu não me lembro mais dos seus relatos, das suas histórias, que contava sempre de uma forma tão entusiasmada. Mas, o jeito desastrado nunca vou esquecer.

Em algum momento você se perdeu dentro de mim nesse labirinto sem fim. Às vezes sinto você passar na corrente sanguínea, sinto sua força nas batidas do meu coração. Sinto as suas lágrimas nas minhas lágrimas e cada célula do teu corpo navega em mim. As lembranças se despedem todos os dias e a saudade faz um porto, enfim.

Eu não me lembro mais nem dos meus e nem dos seus erros. Não lembro do seu cheiro e nem do que fez pra me conquistar. Lembro de algumas datas, que nem dizem mais nada. O seu olhar no meu olhar, o seu sorriso, o som dos seus passos pelo corredor. O abraço e o descuido, a distração que permitiu a interrupção da nossa história. Permissões que foram erros gigantescos, irrefletidas decisões.

Senti saudades que foram cólicas por muito tempo, ferida aberta que insistiu em nunca cicatrizar. Hoje, cada dia é só distância aumentando. Não te procuro, não te percebo, não sei nada sobre seus dias. Não sei onde está! Não sabe das minhas alegrias e nem da luta insana para sobreviver a você. O tempo ameniza as dores, afasta, ensina, dilacera e conserta os desacertos.

Eu não me lembro mais o número do seu celular. Mas, nunca vou esquecer o gosto que foi te amar.


Patrícia Lopes de Oliveira
É escritora


 

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