Patrícia Lopes de Oliveira escreve

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A CASA DE MINHA AVÓ


A casa era simples, de madeira. A pintura envelhecida num tom de verde claro. Uma varanda com as madeiras trançadas. Não era muito grande. Mas cabia todos os nossos sonhos.

A casa de minha avó paterna tinha gosto de felicidade. Vó Augusta era a docilidade em pessoa. Falava pausadamente. Falava só coisas boas. Quando íamos vê-la nas manhãs de domingo. Meu irmão e eu sabíamos que era certeza de grandes aventuras. Que eram momentos indescritíveis. Ela nos recebia com todo o seu amor. Tinha doce no pote. O doce mais gostoso que já experimentei. Tinha gosto de afeto. Ainda fecho os olhos ao recordar aqueles dias. Sentimento que transborda.

A casa da minha avó parecia pequena por fora. Mas era imensa por dentro. Tenho a impressão que era do tamanho de seu coração. Brincávamos de tudo! Éramos piratas, caçadores, professores. Éramos netos tão amados. O abraço da minha vó tinha cheiro de flores. Tinha Aconchego com certeza de vida toda. Seu olhar era tão doce, sua voz tão calma, seu amor tão imenso. Impossível descrever os sentimentos que me tocam quando me lembro dela. Saudade é pouco! Deixava-nos a vontade para explorar cada canto. Tinha colchas de retalhos. Na parede tinha um quadro da foto dela e de meu avô. Na cozinha um filtro de barro. O gosto da água era o gosto das memórias que ficariam. A cama sempre arrumada. Perfume da primavera. A casa toda arrumada. Enfeitada de amor.

Brincávamos muito! Sem saber que estávamos a escrever histórias que permaneceriam para sempre em nossos corações. Fazíamos de cada instante, um instante único e mágico Quando chegavamos em sua casa, minha avó sorria. Era um sorriso tímido. Mas seus olhos sorriam também. Seu rosto se iluminava. Um amor muito além. Meu pai as vezes chamava nossa atenção. Falávamos muito. Eu e meu irmão. Ela logo interferia: Deixa os meninos brincar, João!

A casa da vó Augusta tinha gosto de eternidade. Tinha muitas coisas. Suave e majestoso gosto de liberdade. Sua voz ainda ressoa em meus ouvidos. Sua bondade é sempre exemplo em nossos dias. Quando passo naquela rua eu sempre olho o lugar onde era a sua casa. Todas as vezes!

Como se algo me chamasse e me dissesse que ela ainda está ali. Que ela ainda vai chegar na varanda. Que ainda vou sentir seu olhar atravessando o tempo e tocando em mim. Vó Augusta é lembrança forte. Na véspera de Natal é saudade sem fim. Meus sentimentos visitam o passado e ela sempre está ali. Se eu pudesse voltar no tempo eu lhe daria mais um abraço. E queria ouvir sua voz e seus olhos sorrindo pra mim. Ah vó… Se eu pudesse voltar no tempo.


PATRÍCIA LOPES DE OLIVEIRA
É escritora


17:20:18

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