
Até algumas semanas atrás, Marte era um planeta morto. As últimas erupções vulcânicas ocorreram ali há bilhões de anos, e a grande maioria dos especialistas achava que desde então as entranhas do planeta ficaram praticamente imóveis. Mas nesta segunda-feira foi publicado um estudo inovador que muda completamente essa ideia. O trabalho analisa dados de várias sondas orbitais e também de dezenas de martemotos capturados pela Insight, a espaçonave da Nasa pousada perto do equador do planeta vermelho e que foi a primeira a registrar movimentos sísmicos em Marte.
As conclusões do estudo são convincentes: o subsolo de Elysium Planitia, uma das maiores planícies marcianas, abriga uma área com atividade vulcânica atual com cerca de 4 mil quilômetros de diâmetro, semelhante a toda a Europa Ocidental. O estudo destaca que Marte se torna o terceiro planeta do sistema solar interno com vulcanismo ativo conhecido, junto com a Terra e Vênus.
Os responsáveis pelo trabalho são Adrien Broquet e Jeff Andrews-Hanna , cientistas do Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona (EUA). Ambos analisaram um conjunto de dados diferentes obtidos por diferentes sondas espaciais que estudam o planeta vermelho há décadas, como a Mars Global Surveyor e a Mars Reconnoissance Orbiter, ambas da NASA.
Essas e outras missões permitiram compor mapas topográficos detalhados, bem como estudar as mudanças na força de gravidade exercida pelo planeta, que depende da composição tanto da superfície quanto das camadas internas. Somando as evidências recentes do Insight , ambos os pesquisadores concluem que a explicação mais plausível é a existência de uma enorme “pluma de manto” nesta parte de Marte, ou seja, um grande conduto de rocha que conecta o manto interno do planeta com a crosta externa.
A pluma está entre 100 e 300 graus mais quente que o resto do planeta, portanto, apesar de estar em estado sólido, ela flui lentamente para cima. Acredita-se que a cabeça desta pluma tenha entre 25 e 200 quilômetros de profundidade. Se chegasse a cerca de 10 quilômetros, o impulso poderia aquecer a crosta até derreter, causando uma erupção de lava. A elevada atividade sísmica captada pela sonda da NASA indica que esta zona “está ativa” e que já podem existir depósitos de lava no subsolo, segundo os autores do estudo, publicado na Nature Astronomy.
— Em outro trabalho de nosso grupo, encontramos o caso mais recente de vulcanismo na história de Marte; um pequeno depósito de cinzas com cerca de 20 quilômetros de diâmetro bem no centro da pluma do manto. Sua idade é de 50.000 anos, o que significa ontem em termos geológicos. Tudo isso nos diz que esta região está atualmente ativa. — explica Adrien Broquet.
Em 1990, uma equipe de cientistas simulou uma pluma do manto usando uma caixa cheia de calda de diferentes densidades. Uma das formas criadas se parece com o que deve estar acontecendo agora na crosta de Marte, com a cabeça arredondada da pena como um cogumelo empurrando a crosta do planeta vermelho para fora.
O Globo
09:20:03