Comentário
“QUEM FALA DEMAIS…”
A máxima é antiga: “Quem fala demais dá bom dia aos cavalos”, é uma frase que serve de lição não só para aqueles que costumam se exceder no disse que me disse, na fofoca, mas também, nos arroubos e bravatas. Vale para que aqueles que assim agem, um alerta para que façam uma autocrítica e coloquem um freio – de preferência ABS – na língua. Há quem diga que palavra dita é igual munição de arma de fogo: uma vez lançada, não tem volta. Acho exagero, haja vista que o arrependimento e um pedido de desculpas – sincero – talvez reparem o equívoco. Já o arrependido por ter atirado, ainda que precedido desculpas genuínas, não traz de volta o projétil à culatra.
Entendam a crítica abaixo voltada à parlamentar, não à pessoa. Farei isso porque conheço muito pouco a pessoa, mas a parlamentar em si, está ganhando certa notoriedade, infelizmente, mais pelas polêmicas do que pelos acertos. E, de verdade, torço para que a mesma reconsidere posturas e evolua em sua legislatura, pois o número de mulheres na política é tão diminuto que temo que os erros por ela cometidos sejam julgados de forma mais contundente pelo simples fato de estarmos numa sociedade machista. Não que não mereça o julgamento, mas é fato que bravatas políticas masculinas parecem ser mais toleradas ou até mesmo, em alguns casos, exaltadas positivamente: A polarização Lula X Bolsonaro é a prova viva disso.
Na votação do PL que norteia o futuro da Previdência Municipal de Presidente Venceslau, uma vereadora, no intuito de defender ferrenhamente seu ponto de vista – ou talvez o executivo – disse, de forma explícita: “Diferente de alguns que ficam relinchando”. Não é preciso dizer que a reação efusiva dos funcionários públicos municipais que encontravam-se na Casa Legislativa – do povo, não dos vereadores – foi emitir uma vaia não menos contundente.
Constrangida, a vereadora pediu desculpas e disse que a fala não foi pejorativa – Há algum outro sentido? – mas a partir daí, o que foi dito, dito estava. O tal PL não foi aprovado, cinco vereadores votaram contra, derrotando o executivo no que diz respeito ao aumento da idade mínima para a aposentadoria, mantendo a essência do que diz a Lei Orgânica Municipal.
Com relação à questão do aumento da alíquota da contribuição previdênciária em si, entendo que o assunto é complexo: A curto prazo, prejudica diretamente os contribuintes que já teriam seus direitos supostamente garantidos. A longo prazo, talvez seja um remédio amargo e necessário, exatamente para a saúde fiscal do fundo previdenciário e manutenção destes mesmos direitos.
Custava a argumentação da vereadora ao defender o PL ser nesta linha? Precisava faltar com o decoro e desrepeitar aqueles que já estão se sentindo lesados com a situação que estava se desenhando? Atribuo tais ações e falas à inexperiência. Não é colocar panos quentes, mas se tornar político requer um tipo de inteligência que hoje em dia parece estar em declínio: A inteligência emocional. Não estou dizendo que a vereadora não a tenha, mas há a possibilidade de que a mesma não tenha sido aflorada por falta de experiência, e que possa haver evolução neste sentido.
O fato é que existiu uma falta de respeito consumada e que muitos que se sentiram ofendidos, certamente anotaram o episódio numa carteirinha íntima. De verdade, por motivos ligados principalmente ligados à questão da representatividade do gênero feminino na política, torço para que a vereadora aprenda com a lição e execute sua legislatura com mas racionalidade e menos ímpeto. É fato que se continuar dando bom dia aos cavalos, a impopularidade e a rejeião lhe soarão tão alto quanto o relincho simultâneo de mil equinos selvagens…
* O Eldoradense é Nando Freitas e escreve periodicamente no Blog do Toninho