O diagnóstico de demência pode ser fator de risco para o suicídio?

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Suicídio na velhice é um problema relevante de saúde pública, dada sua maior letalidade entre idosos se comparada com grupos mais jovens. Muitos fatores podem concorrer para a situação, mas ainda não está claro o papel desempenhado por quadros de declínio cognitivo leve e demência para as tentativas de suicídio. O que a literatura médica atestava, até então, era o risco aumentado em casos de demência associada a depressão, mas pesquisadores da Universidade da Califórnia, San Francisco, deram um passo além no trabalho publicado no fim do mês de março pela revista científica “Jama Psychiatry”.

O estudo cruzou dados de mais de 147 mil indivíduos, sendo que 21 mil deles com declínio cognitivo leve; 63 mil com demência e outros 63 mil sem esses transtornos. O declínio cognitivo leve é um diagnóstico que engloba dificuldades de memória que afetam atividades diárias importantes, como esquecer o gás ou o forno ligados, ou “desaprender” algum tema sobre o qual a pessoa tinha total domínio. Um total de 138 pacientes com declínio cognitivo e 400 com demência tentaram suicídio, enquanto foram 253 sem doença.

O que chamou a atenção dos pesquisadores é que o risco de tentativa de suicídio era consistentemente maior em pacientes que tinham tido diagnósticos recentes: aumentava 73% nos diagnosticados com declínio cognitivo e em 44% para os que recebiam a notícia de que tinham um quadro demencial, independentemente de comorbidades médicas e psiquiátricas. Levantamento recente realizado na Dinamarca tinha chegado à mesma conclusão: o risco de suicídio triplicava no primeiro mês após o diagnóstico. Certamente, pensamentos como o medo de perder a autonomia, de se tornar um fardo e a antecipação dos acontecimentos futuros são alguns dos motivos para o ato.

A constatação tem um desdobramento da maior relevância em termos de saúde pública, apontando para a necessidade de um serviço de suporte para mitigar o problema. Afinal, trata-se de um diagnóstico que muda para sempre a vida de um ser humano – além de acompanhamento psicológico, a partir daí será preciso pensar em formas de reduzir o isolamento, planejar cuidados paliativos e tomar as decisões legais e financeiras cabíveis.

G1
15:30:01
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